O videoclipe e o rap nacional: políticas na promoção audiovisual de artistas emergentes
Resumo
O videoclipe, recurso que surgiu para promover comercialmente artistas no contexto histórico de simbiose entre a indústria fonográfica e a mídia televisiva, desde a década de 1950 se dedica a integrar a visualidade à canção e suas sonoridades. Uma das primeiras preocupações dos diretores de videoclipe se manifestaram em torno da não sobreposição entre imagens narrativas e conteúdo textual das letras das canções, tanto que o manancial inspirador privilegiado foram as poéticas surrealistas do cinema, cujas descontinuidades narrativicas provocavam experimentações rítmicas da imagem. A forma do videoclipe construiu historicamente seu paradigma expressivo a partir dos recursos específicos de montagem, movimentos de câmera, trucagens e transições visuais, bem como fragmentações da narrativa que afetaram a escuta musical. Holzbach (2012) explica que a experimentação criativa do videoclipe permitiu que este ultrapassasse as redundâncias discursivas entre imagem e canção, não apenas como um mero complemento visual que ilustra descritivamente a expressão cancional. Chion (1994) já afirmava que a invenção no videoclipe provoca um exercício imaginativo na escuta musical. Um fator expressivo notado na grande maioria dos videoclipes de artistas do rap se assenta, contudo, em duas características recorrentes: 1) planos que enquadram o artista em sua performance vocal com o olhar dirigido à câmera (critério que se justifica pela tradição expressiva de posturas verbais, gestuais próprios ao teor político implícito ao gênero); 2) a apresentação imagética do contexto urbano das comunidades que abarcam os respectivos cenários onde as canções foram criadas. O videoclipe de Subirusdoistiozin do rapper Criolo, publicado em 2011 e dirigido por Tom Stringhini, é um exemplo de produção audiovisual que rompe criativamente com este padrão expressivo recorrente no rap nacional. Explorando recursos imagéticos como planos detalhistas e movimentos de câmera que geram fluidez, assim como luzes e cores que colaboram na composição psicológica do desenvolver da narrativa. Isto faz com que surjam novos níveis de interpretação que dão visibilidade e diferenciação para os trabalhos artísticos do rapper. Um aspecto que merece ser problematizado se refere a videoclipes produzidos com recursos técnicos precários num contexto tecnológico de publicação, circulação e promoção que atualmente depende da frequentação às redes digitais, como, por exemplo, o Youtube ou redes sociais. Rappers emergentes concorrem pelo acesso da audiência num universo em que figuram milhares de peças audiovisuais com alto nível de produção técnica e estética. Para que os videoclipes desses artistas que residem em comunidades economicamente deficitárias ganhem oportunidade de se tornarem atraentes, seria imprescindível se conceberem projetos de políticas públicas e sociais que envolvam as instituições em iniciativas de fomento a essa cultura musical. Tal iniciativa precisa se pautar por um trabalho que envolva parcerias entre instituições, profissionais do audiovisual, por meio de projetos que ministrem cursos de formação acessíveis aos jovens produtores, tais como produção de vídeo, gravação, edição, cenografia, marketing cultural, estratégias de divulgação e promoção de trabalhos audiovisuais nas redes digitais, bem como aquisição ou locação de equipamentos e serviços específicos.
Palavras-chave: videoclipe; rap no Brasil; políticas públicas.
Referências:
CHION, M. Audio-Vision: Sound on Screen. New York: Columbia University Press, 1994.
Holzbach, Arian. 007 a favor do videoclipe: as sequências de abertura dos filmes de James Bond como experiência sonora e visual. In: SÁ, Simone Pereira de; COSTA, Fernando Morais da. Som + imagem. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2012. p. 127-144.
MELEIRO, Alessandra (Org). Cinema e economia política. São Paulo: Escrituras, 2009.
Subirusdoistiozin (Videoclipe Oficial). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Da04TlloTg0>. Acesso em: 26 mar. 2018.