Última alteração: 2017-08-18
Resumo
Estudar o passado institucional através de seu patrimônio artístico permite construir um discurso sobre a própria história da Instituição. Obras que escreveram o percurso da Faculdade de Medicina da UFRJ permitem entender esta história institucional em sua relação com outras histórias de unidades que hoje integram a UFRJ e recuperar momentos da construção desta Universidade nos seus 100 anos. Apresentamos um inventário preliminar da pinacoteca da FM - retratos de docentes em “óleo sobre tela” - e as potencialidades de pesquisa a partir da identificação dos autores dessas obras - professores da Academia de Belas Artes, origem da atual Escola de Belas Artes da UFRJ. A identificação dessa relação acadêmica permite discutir aspectos da história comum dessas unidades e de como se desenvolviam essas relações. Dos 199 quadros catalogados pelo projeto desenvolvido pelo Centro de Documentação Histórica da Faculdade de Medicina (CEDEM), 38 são da autoria de Augusto José Marques Júnior (1887-1960) Professor da Escola Nacional de Belas Artes. O levantamento da produção ‘extra-universitária’ dos retratados e dos artistas poderá também iluminar as relações sociais mais amplas desses atores. Em levantamento inicial na Base Minerva/UFRJ sobre dois docentes – Domingos Jacy Monteiro (1852-1893), Professor de Clínica Psiquiátrica e Pedro Augusto Pinto (1882-1971), Professor de Farmacologia – observamos, além da produção científica, uma produção literária e atuação política que ilustram o papel social desses docentes e da faculdade. Domingos Monteiro, além da tese de doutoramento -“Dos systemas penitenciarios e de sua influencia sobre o homem” (1875), publicou “Canto e soneto a memoria do poeta brasileiro Antonio Goncalves Dias” (1867) e presidiu a Província do Amazonas (1876-77). Pedro A. Pinto dissertou sobre “Causas que modificam a acção e o effeito dos medicamentos” (1917), editou o “Dicionário de Termos Médicos” e publicou “Os Sertões de Euclides da Cunha, Vocabulário e Notas Lexicológicas” (1930). O acervo, que está sendo recuperado por trabalho conjunto do CCS e da Escola de Belas-Artes - exceto os quadros localizados nos gabinetes de direção - foi transportado da Faculdade de Medicina na Praia Vermelha em 1972 e permaneceu encaixotado na área semiconstruída do prédio do Hospital Universitário por quase 20 anos. Grande parte do acervo permanece ainda em condições inadequadas que facilitam o ataque de fungos e cupins e, mesmo aqueles que estão nos gabinetes, são expostos a variações térmicas, incidência de luz solar e umidade. As pinturas mostram graus variáveis de deterioração e até mesmo perda total do suporte, restando a moldura e o nome do retratado, como a do Prof. João Pizzarro Gabizo (1845-1904). Novamente, a Escola de Belas Artes e a Faculdade de Medicina escrevem sua história comum. O trabalho conjunto de professores e alunos do Curso de Conservação e Restauração de Bens Móveis da EBA, e professores, funcionários e alunos da Faculdade de Medicina através do Laboratório História, Saúde e Sociedade recuperam não apenas este acervo, mas a construção comum de uma identidade universitária mostrando a recriação permanente desta universidade centenária.