Como nos lembra Virginia Woolf, em “Um teto todo seu”, a mulher perpassa a história da literatura, desde os seus primórdios. Ao mesmo tempo que é cantada/descrita e até falada pelo homem; sua autoria permanece dispersa e até hoje, luta contra o espaço de silêncio onde costumam acomodá-la. Voz impedida de narrar, diante da urgência dos múltiplos papéis femininos destinados ao “anjo do lar”. Voz criada ou silenciada pelos outros, corpo, desde sempre, alheio de si, pertencente a outrem, voltado à posse e ao gozo masculino. Nesse sentido, mulheres cuja sexualidade permanece vigiada e ameaçadora: ideal de beleza tornado mito, denunciado por Naomi Wolf, cujo corpo, “fatiado”, máquina-promessa de todos os prazeres, vende desde sabão em pó até carros velozes – relação, aliás, nem um pouco proposital, no mercado de mulheres idealizadas postas-à-venda. Isso sem esquecermos a hipererotização do corpo negro, vítima histórica de rebaixamento e de cobiça.
No país dos índices alarmantes, vexatórios, trágicos de feminicídio, palavra que precisa ainda ser explicada a alguns que acreditam na neutralidade da linguagem, esta convocatória parte da denúncia das diversas formas de violência perpetradas contra o corpo feminino – físicas, sexuais, psicológicas, patrimoniais, morais – que incidem sobre a alteridade na esfera doméstica familiar, na pública e na de conflitos subjetivos.
Por outro lado, nunca os abusos foram tão intensamente debatidos, denunciados por uma infinidade de campanhas que mobilizam mulheres e meninas do mundo todo, pela agilidade proporcionada pela militância feminista on-line.
Em consonância com a motivação principal do movimento feminista, em respeito à pluralidade e a consideração do sujeito mulher, esse asujeito histórico, temos como objetivo contribuir para a visibilidade social e acadêmica das pesquisas e questões voltadas aos estudos de gênero, corpo, feminismo.